Carta aberta à autora Isadora L. Hermann


Querida Isadora L. Hermann,

Hoje é véspera de Ano Novo e a rua parece tão calma, tranquila e silenciosa. O que será que aconteceu? Deve ter sido mais uma brincadeira sem graça das chuvas que pararam de cair. O céu está nublado desde às seis e meia da manhã. Não cheguei a quatro horas de sono depois de passar mais uma noite em claro. Felizmente, as aulas no turno matutino já se acabaram. Isso é um alívio para nós dois. Pode ser muito pouco tempo, mas o descanso no feriado é indispensável para qualquer estudante. Adivinha o que eu fiz... Eu li as suas poesias sobre os felinos. Acho que a Antologia Língua Animal foi o último livro que eu abri esse ano. Agora, só volto a ler no ano que vem. (Eu sou muito ruim com essas piadas)

A primeira poesia que eu li foi "Todos os gatos merecem poemas". Onde eu assino? Te dou a certeza de que o frio nunca vai te incomodar, pois você está coberta de razão. Eles merecem poemas, contos, crônicas e todas as palavras bonitas da antologia, mas eu sinto dificuldade em escrever sobre isso. Como transformar gatos em palavras? A dúvida permanece, mas a gente ainda se arrisca. Tem um trecho que diz:

"[...] No entanto, 

Sua natureza inquieta parece não caber em estrofes

Suas cambalhotas no ar saltam versos que sequer existem

Quebram o ritmo,

Se pa r a  n   d    o e emdaralhanbo expressões." (ISADORA L. HERMANN)

São expressões que parecem fugir da cabeça quando pensamos ter encontrado alguma palavra, alguma rima que pudesse se encaixar perfeitamente em todos esses anos de companheirismo e muito amor. Dizem que a gente vira escravo dos bichanos. Isso é verdade. Eu já fui escravizado pelo Tom (in memorian), meu querido e único gatinho. Sinto saudades dele quase todos os dias. São quase dois anos sem ver pelos espalhados pela casa. No dia em que o carteiro trouxe os exemplares da antologia, eu abri direto na seção "Gatos a miar e ronronar". Enquanto eu li os textos, tive a impressão de que o Tom estava em cima da minha barriga, fazendo aquela massagem que me dava cócegas. Eu senti o mesmo enquanto escrevia um texto para publicar na coletânea. A microcrônica "Com amor, Tom" diz apenas um pequeno trecho de um dia comum com o meu menino. Ele fazia cada momento se tornar único. Lembra do final?

"[...] Os olhos se fechando bem devagar como um piscar de sedução, dizendo:

- Eu te amo!

Fazem toda sujeira valer a pena!

- Eu também te amo, Tom!" (JOJO CAMPOS)

Acredita que quase não saiu? Tive que selecionar uma demonstração de carinho, mas foram tantas! Imagine o tamanho da caixa de memórias que esse danado me deixou... Quase não cabe na minha vida. A propósito, deixo aqui meu carinho por Legolas e Vênus, seus dois gatinhos queridos e pela pessoa maravilhosa que é o Lucas, seu noivo. Tenho muita vontade de conhecê-los. Vou ter que colocar Minas Gerais na minha agenda de destinos para viajar. Ainda continuo preso em casa (não só por causa da pandemia). Porém, em 2021 as coisas vão começar a mudar. Pelo menos, eu espero que mudem... Ou melhor, eu vou fazer acontecer a mudança. Nós dois faremos.

O último dia do ano parece ter algo muito especial para cada um. Eu ainda não descobri o quão especial ele é para mim, mas sei que você já descobriu. Você batalhou tanto para isso. Eu queria não ser lerdo demais para perceber as coisas. Parece que os tormentos de cada dia foram suspensos hoje... Não sei... O dia ainda não acabou. Muita coisa ainda pode acontecer até a meia noite. Eu sei que não vou ficar sentado esperando por nada disso. Tenho tantos filmes para assistir, séries para maratonar. Não quero passar mais um ano com uma lista de afazeres não cumpridos. É melhor eu começar logo! Desejo um Feliz Ano Novo a você e a todos aqueles que você ama! Em breve a gente se encontra!

Com amor,

Jojo Campos


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