Carta aberta ao autor Guilherme Formicki
Querido Guilherme Formicki,
Como
vão as coisas? A gente tem se falado quase todos os dias. Eu sei que a gente se
conhece há muito pouco tempo. Aquela entrevista foi muito importante para mim.
Foi a primeira que eu publiquei no blog. Acredita que é uma das mais
visualizadas? (Ps: Você é uma celebridade) Eu adotei aquele modelo para
escrever as outras. É uma forma de deixar tudo mais prático e rápido. Sabe como
isso tem me ajudado tanto a continuar com as publicações? Eu sei que dei uma
relaxada. O desânimo acabou me pegando de surpresa, mais uma vez. Queria que
isso não tivesse acontecido tão cedo. O ano mal começou...
Lembra
das últimas conversas que nós tivemos sobre a grade de horários de estudos e
outros compromissos? Como ficou a sua? Com certeza não deve estar tão
desorganizada quanto a minha. Eu tenho vergonha de pedir ajuda com o meu
planejamento semanal. Eu sempre faço tudo no papel com canetas coloridas e
alguns adesivos de flores e corações. Eu também passo tudo para o Google Agenda
e deixo o alarme encarregado de me lembrar de organizar tudo com cinco minutos
de antecedência para cada atividade. Daí a primeira semana passa e um ou dois
compromissos se acumulam. Um mês depois eu fico devendo quatorze ou quinze
compromissos. Pelo menos, eu não levo falta nas aulas remotas e não deixo de
entregar as provas dentro do prazo. Pena que a minha vida não se restringe a
isso. Eu tenho tantas coisas além das aulas. É por isso que não estou mais
escrevendo com frequência.
Eu
andei deslizando meu polegar na sua página do Wattpad. Eu comecei a ler o seu
livro "Pranto e Outros Contos". O começo do conto "Pranto" me chamou a atenção: “João chorava. Estava aos prantos, como se diz. Se não devia chorar, chorava.
Se não era para se entristecer, fazia-o. Afinal, desobedecer ao que a razão
mandava era um feito digno de orgulho” (GUILHERME FORMICKI, 2020). Eu tenho uma
pergunta: Sou eu? Não é porque meu nome também é João. Não se trata disso. É
que eu desobedeço a razão quase todos os dias. Eu deixo de dormir para escrever
uma carta. Eu deixo de fazer o meu almoço para dormir um pouco mais. Eu deixo
de comer devagar para não me atrasar para uma aula. Eu entro cedo na aula, mas
o professor só inicia a aula dez ou quinze minutos depois. Eu não faço
intervalo entre as aulas da tarde e da noite, então só tenho tempo de comer um iogurte
de morango ou beber um copo de leite fermentado. Durante a madrugada, eu
estômago ronca de fome. Eu escolho procurar algum biscoito ou um pedaço de maçã
na geladeira ao invés de planejar um café da manhã mais organizado... E eu
choro enquanto procuro uma posição para dormir. Lá se foi mais um dia
“improdutivo” para mim.
Eu
tenho minhas diferenças com o João. Eu nunca namorei, nunca tive um término que
me deixasse aos prantos em público. Não há trens ou metrôs na minha cidade, mas
eu já andei por tantos ônibus durante a noite que já me perdi no meio da
viagem. Eu dormi e acordei em uma parada diferente da minha. Eu já passei viagens
inteiras aos prantos por causa de uma matrícula cancelada na universidade, de
um comentário humilhante em casa, de um assalto que sofri a caminho de casa e
do meu último amor não correspondido. Acho que isso foi o mais próximo que
cheguei do João. Eu também não me lembro de nenhuma borboleta andando no
ônibus. Eu me lembro de alguns vagalumes no Campus 311 e duas libélulas perto
do meu bairro. Não sei se elas estavam ali por acaso ou se vieram me trazer
reflexões sobre o sentido da vida. Eu admito que ainda estou procurando por
ele. Você já o encontrou? Se sim. Por favor, me diga. Eu preciso muito saber.
Quanto ao presidente da república... Eu espero nunca encontrar um garoto que
ajude a salvá-lo.
Com
amor,
Jojo
Campos
Que reflexão, Jojo! :)
ResponderExcluirOlá, querido Guilherme. Muito obrigado pela sua leitura.
ExcluirSeus textos me trazem muitas reflexões. <3
Com amor,
Jojo Campos