Quando o blogueiro não serve para nada

 


O sonho de ter o seu espaço para escrever, publicar, desabafar e expressar tudo o que a vida deixou de bom ou de ruim, em forma de textos, pode ser simples e prático. Afinal, é a coisa mais fácil criar uma conta gratuita em alguma plataforma de conteúdo. Qualquer usuário pode fazer isso. Ele só precisa reservar um momento do seu precioso tempo para procurar a plataforma ideal, usar seu Gmail e criar uma senha para logar. Então, é só preencher os dados pessoais de cadastro e as informações da sua nova página. Como ela se chama? “Querido eu mesmo”, “Querido diário”, “Querido amigo que não me responde há séculos”. Pode ter um nome comprido sim. Isso é critério pessoal. De qualquer forma, seja bem vindo ao mundo dos blogueiros. Agora só responde: qual é a utilidade disso?

Não é para responder ao público ou a algum internauta desocupado que questiona o tempo que os outros gastam escrevendo o que ele considera uma besteira desnecessária. O público (se tiver um) precisa saber o que o blogueiro está produzindo de conteúdo. Isso pode estar descrito embaixo do perfil do blogueiro, em uma aba específica “sobre” ou na primeira postagem. Um blogueiro de culinária pode não ser o interesse de um leitor de artigos de análise de conjuntura política, da mesma forma que um blogueiro comentarista político não possui tanto sucesso no seu alcance com os estudantes de cozinha, confeitaria e gastronomia. Uma blogueira literária passa despercebido por alguém interessado exclusivamente em textos sobre automóveis e ferramentas mecânicas. O que uma blogueira de moda tem a oferecer para um leitor de artigos sobre pescaria e experiências de caça aos javalis no Mato Grosso do Sul? Talvez, uma recomendação de bota de couro para caça ou nada. A utilidade pode ser pouca ou nenhuma (para fora do público). Porém, para uma estudante de moda, uma consultora de imagem, uma cliente de lojas de departamento ou uma proprietária de um pequeno brechó, esses conteúdos podem valer ouro.

Quanto ao caso do internauta desocupado, ele é o único que joga tempo fora. É curioso como alguém consegue vestir a camisa da pessoa ocupada mais responsável do mundo só para desperdiçar parte do dia destilando críticas vazias e sem fundamento contra um blog de versos e poesias ou mesmo um blog pessoal. Quando o incômodo e a dor de cabeça fazem alguém gastar os dedos no teclado para escrever um comentário ofensivo, um desprezo ou até uma grande nota de repúdio sobre como há pessoas que “se acham escritoras, mas não passam de chorões imaturos de uma geração fracassada”, isso significa que a página é muito útil. É tão útil a ponto de garantir espaço até para os haters. Não há nada que dê mais engajamento para um blogueiro do que um crítico odioso com tempo livre para escrever sobre ele. A inutilidade das publicações é a utilidade para esse tipo de internauta. Aliás, esse tipo se sente vazio e incompleto sem nada para criticar. Parece que a vida não faria sentido algum sem o seu querido alvo para detestar todos os dias.

Quando o blogueiro não serve para nada, ele pode ser mais útil do que um digital influencer com 10M de seguidores. Os textos podem ser menos cautelosos e mais espontâneos. As publicações não precisam seguir tanto rigor estético, o que não gasta tanto tempo assim para produzi-las. A página não demanda uma série de investimentos até nos padrões de vida do proprietário, pois ele não tira selfies de 5 em 5 minutos para postar nos stories das redes sociais. O blogueiro pode até não ganhar um centavo com o seu trabalho. Isso não estava nos planos dele. Não foi por isso que ele criou uma página para os seus conteúdos. Tem blogueiro que só publica aos domingos porque trabalha de segunda a sábado como enfermeiro em um hospital, como professor em uma escola de ensino médio ou como operador de telemarketing em um setor de cobranças. Tem blogueiro que só publica de madrugada porque o sono desregulado o torna mais produtivo durante esse período. Tem blogueiro que parou de publicar porque não viu mais utilidade no seu conteúdo... E quando isso acontece, sempre tem um leitor sentindo falta do acesso a essa página (mesmo que esse leitor seja o próprio criador).

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