Carta aberta ao ator Enrique S. Oliveira

Querido Enrique S. Oliveira,

      Não sei como começar a pedir mil desculpas por ter demorado tanto para te escrever uma cartinha. Acho que devo começar pelo dia em que a gente se conheceu no Facebook. Eu me lembro de ter visto um lindo garoto de cabelos ruivos com a sua coleção de acessórios e itens de decoração do Scooby Doo. Aquele dia era para ter sido só mais um dia tedioso igual ao resto do ano. Eu te adicionei, você me aceitou e a gente começou a trocar algumas mensagens. Devo estar enganado, mas eu iniciei a conversa com algumas perguntas sobre a sua trajetória artística e o seu trabalho como ator... Ou será que foi sobre a sua incrível coleção? Desculpa por isso também. Eu estou tão ruim da cabeça. Não consigo me lembrar de coisas tão básicas do dia a dia. Acredita que hoje eu comecei a ler dois livros, e já não me lembro de quase nada? Sei que um se trata de um mistério em uma festa de casamento em uma ilha fictícia na Irlanda e o outro é sobre uma vida cheia de desafios e acontecimentos marcantes na Turquia dos anos 80-90 (a obra envolve uma mulher ruiva, mas eu mal acabei de encontrá-la na história). Eu sei dessas coisas porque anotei, mas e o nome dos personagens? E o que os personagens fizeram? O que eles estão esperando que aconteça? Eu não me lembro... Eu também não me lembro se já perguntei se você gosta de livros. Se sim, por favor, me dá um conselho para me ajudar a continuar as leituras.

      Ontem, eu entrei no seu canal no YouTube (meninodrama) para assistir aos meus curtas favoritos. Por um momento, pensei que eles foram excluídos. Foi um engano meu. Minha lerdeza me atrapalhou enquanto eu procurava por eles. Eu uso óculos há mais de dezesseis anos, mas ainda não me acostumei a ficar com eles no rosto. Não é nem o costume. É que eu me esqueço de usá-los. Agora que eu me lembrei. Eu não estou usando eles (tive que sair do quarto para procurá-los). Não sei quanto tempo passei assistindo ao curta (GE)LADEIRA ABAIXO. Como não tenho a opção de colocá-lo para repetir automaticamente, tive que reiniciá-lo várias vezes. Tranquilo. Eu faço isso com as músicas e com algumas conversas com os ex-crushs (as poucas que ainda tenho no WhatsApp). Não é que eu queira reproduzi-los várias vezes porque gosto muito, é que sempre tem um trecho que diz muito sobre o que eu sinto, o que eu senti, o que eu passei e, de alguma forma, eu me sinto bem por me manter assim (estável). Como você mesmo diz na legenda de descrição: "A culpa é das expectativas". Eu continuo ladeira abaixo por ainda criar expectativas em tudo. Se bem que não me lembro da última expectativa que criei... Não me lembro se foi sobre minha meta de leitura para esse ano... Ou a meta de filmes e séries da Netflix e do Telecineplay... Ou de estudos de línguas estrangeiras. Eu sei que não vou conseguir cumprir nenhuma delas. Então, estou aqui sofrendo por antecipação. Isso acontece com todos os meus planos para o Ano Novo. A diferença é que, dessa vez, eu consegui não incluir nada que envolvesse a palavra "namorar". Uma expectativa a menos para me fazer de trouxa.

      De vez em quando, a gente troca algumas mensagens, fala sobre alguns planos de curtas e atuação, compartilha uma ou outra frustração quase idêntica e conversa a respeito de um futuro com o teatro e o cinema. Tudo bem. Eu não me lembro quando foi que nós tivemos nossa última conversa sobre isso. Foi há alguns dias. Disso eu tenho certeza. Acho que foi sobre uma proposta de curta para a gente gravar em alguma plataforma. Eu tenho um roteiro que escrevi para o Festival Sketches de Curtas e Monólogos da minha escola. Só não me lembro onde foi que eu o guardei... Não está em nenhum dos meus cadernos, nem nos meus livros. Procurei nas minhas gavetas e nas minhas caixas de sapato. Onde será que eu enfiei esse roteiro? É por isso que eu costumo digitar tudo o que escrevo. Mais uma vez, mil desculpas... Se você quiser, pode escrever um para a gente... Ou a gente escreve junto. O que você pensa em fazer? Eu não tô filtrando muito bem as ideias para um novo trabalho. Ando tão desmotivado com o teatro (e com tudo). Acredita que eu não renovei minha matrícula dentro do prazo? Eu vou passar um semestre longe das aulas de interpretação. Talvez, um ano ou mais. Quem sabe? Sinto um vazio nada desconfortável em mim, como se fosse uma grande perda que me arranca pouca coisa. Não é bem assim que eu imaginava que seria. Eu pensei que eu fosse chorar igual a um bebê soluçando por sair da companhia teatral. O que eu vou fazer com tantos figurinos no meu guarda roupa?

      Se nós morássemos bem perto, eu te entregaria todos eles. Você poderia usá-los em alguns projetos de gravação ou na sua escola de teatro. Aliás, quero muito conhecê-la. Ouvi muitos elogios sobre o seu conservatório, mas imagino que também não deve ser essa maravilha toda. A gente já conversou muito a respeito disso. Lembra? Eu me lembro (finalmente). Eu ainda não sei se vou conseguir me mudar para São Paulo até o final do ano ou no começo do ano que vem. Essa é só mais uma meta que nunca cumpri e sempre joguei para as metas do próximo Ano Novo. Acho que eu vou conseguir dessa vez. Sei lá. Pelo menos, vou esperar a pandemia passar (espero que ela se acabe até o começo de 2022). Não quero te encontrar em São Paulo e não poder nem te dar um abraço. Eu quero poder conhecer os museus, as galerias, os teatros e a cidade de Tatuí, onde você mora. A gente vai fazer tanta coisa junto, fora os vários trabalhos de curtas. Por que não um longa? Eu aceito ser qualquer coisa (só não quero ser figurante porque esse foi o único papel que desempenhei até agora). Esses planos devem entrar na lista dos que serão cumpridos antes da véspera de fim de ano. Não podemos correr o risco de deixar as expectativas serem culpadas outra vez. Elas não vão nos prender em casa. Nossos sonhos voam tão alto que alcançam os céus. Um dia, nós seremos duas estrelas neles.

Com amor,

Jojo Campos



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